quinta-feira, 30 de outubro de 2008


SE CADA DIA CAI
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Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
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(Pablo Neruda - Últimos Poemas)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou....

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Não pensa mais nada
No final dá tudo certo
De algum jeito
Eu me acerto, eu tropeço
E não passo do chão

sábado, 18 de outubro de 2008

Prólogo


Quero escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, mesmo sabendo que eu provavelmente ou talvez não estarei lá.
Quero que você ignore a improbabilidade da nossa jornada e fale da casa que teremos juntas.
E que faça tudo isso enquanto passa a mão nas minhas costas, cheira suavemente meus cabelos e me beija o rosto.
Que você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento.
Então, que não se arrependa.
Da gente.
Do que fomos.
Do que poderíamos ser.
De tudo o que vivemos.
Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos.
Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais.

Que você nunca mais deixe de pensar em mim quando pensar em amor.